Lavoura arcaica


A História oferece fatos surpreendentes, conquistas e, infelizmente, massacres. Quase sempre dos mais pobres. A história da República Velha (1889-1930) está repleta de fortes eliminando fracos. O jornalista Euclides da Cunha contou em Os Sertões o fim de dois homens, um velho e uma criança. Um grupo de cinco mil soldados avançou contra os cinco indefesos, matando-os. Eram os últimos sobreviventes de uma multidão faminta e entregue à fé. Canudos importunava.

Poucos anos depois, pelos mesmos motivos que levaram à formação de Canudos – fome, miséria, abandono do governo –, milhares de pessoas se reuniram no Contestado, fronteira entre Santa Catarina e Paraná. A história se repetiu: todos assassinados. Canudos e Contestado assustavam. Havia ali um misto de inconformismo, fé corajosa, resistência.

Em 1910, a história registra a revolta de um marinheiro – o Almirante Negro. Levantou-se contra as chibatadas, carência alimentar, trabalho excessivo e desmandos na Marinha brasileira. Recebeu a promessa de anistia. Mas junto de 17 homens, João Cândido Felisberto, o Almirante Negro, foi jogado numa prisão sem janelas. Amontoados, receberam cal sobre a pele. Depois de seis dias, apenas dois homens haviam sobrevivido – o Almirante era um deles. Foi preso, torturado, finalmente solto, morrendo em 1969. Não faz tanto tempo assim.

Páginas do Brasil. Lendo História, juntando a sucessão rápida de cenas frias, pergunto-me: onde estava Deus quando esses milhares morriam? Indispensáveis a quase todos, mas indispensáveis para Jesus? O que dizer da multidão martirizada ontem, e também hoje? Contei os sentimentos a um amigo. De pronto, lembrou-me da lavoura arcaica.

Um agricultor plantou uvas e arrendou a plantação, ausentando-se. No tempo da colheita enviou servos para receber parte dos lucros. “Mas os lavradores agarraram os empregados, bateram num, assassinaram outro e mataram ainda outro a pedradas.” O dono da vinha enviou outras pessoas, em maior número, mas foram mortas por aqueles que pensavam que a terra era deles, que a Terra segue seu rumo, sem dono nem propósito.

Por fim, o agricultor enviou seu próprio filho. “Mas, quando os lavradores viram o filho, disseram uns aos outros: ‘Este é o filho do dono; ele vai herdar a plantação. Vamos matá-lo, e a plantação será nossa’” (Mateus 21:33-41). Mataram Jesus, o filho divino. Foi ele quem contou a parábola e disse que cada um receberá a retribuição pelo que faz – acerto de contas diante de atos maus, recompensa face ao bem. Um dia o dono da lavoura, cada vez mais arcaica mesmo em meio à tecnologia sem limites, vai voltar.

O ditado popular tem origem divina: o que foi plantado será colhido. Nada foge aos olhos de Deus. O jardim edênico, transformado em lavoura das discórdias, voltará à perfeição. “Preparem os campos para a lavoura, semeiem a justiça e colham as bênçãos que o amor produzirá. Pois já é tempo de vocês se voltarem para mim, o Senhor, e eu farei chover sobre vocês a chuva da salvação” (Oséias 10:12).

Só a História da Salvação, inscrita na cruz por Cristo, tem o poder de eliminar o desespero na história humana. Os braços estendidos do deus-homem alcançaram o horizonte infinito, a história de todos os tempos – antes de Cristo, depois de Cristo. A morte na vinha do Senhor selou a salvação da humanidade. Jesus é o marco, o filho herdeiro da Terra, o dono da vinha. Ele voltará.






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